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Emmanuel

Emmanuel Predestin nasceu e cresceu nas periferias de um dos países mais pobres do mundo. Por seu esforço conseguiu uma bolsa universitária aqui no Brasil. Sem recursos pra viagem, não fossem as orações de seus pais e a intervenção graciosa do Pai Eterno, ainda

estaria lá. Vencendo obstáculos que nunca conseguiremos dimensionar, recebeu o prêmio do MEC de melhor aluno estrangeiro no Brasil. Nos conhecemos há 3 anos. Como a bolsa não cobria todos os seus custos, vivia de pequenos bicos. Na maioria dos meses, apesar de sua diligência, a conta não fechava. Se pra nós, brasileiros, é difícil, imagine pra um imigrante.


Sua fragilidade econômica contrastava com seu sucesso acadêmico (agrônomo, mestre em Genética e Melhoramento e doutorando em Biotecnologia Ambiental) e sua preocupação com outros imigrantes, mais vulneráveis que ele. “Pastor, o senhor tem alguma cesta básica

que possa repartir? Tem várias famílias passando fome”. – Passa aqui; o que temos, repartimos. É assim que vivemos. Repartir é um dom do reino.


Lembro-me das várias vezes que enchemos seu pequeno carro, porta-malas e bancos, com doações de alimentos de todos os tipos... Outras vezes havia pouco, mas sabíamos que mesmo esse pouco seria partilhado. No Reino, compartilhar não é dar do que nos sobra.

É repartir do que se tem.


Um dia convidou-me pra conhecer sua igreja. De longe ouvi o som. Ao entrar naquele barracão lotado, fui impactado pela explosão de louvor, alegria, devoção e lágrimas do povo. – Como um povo necessitado, em terra estranha, pode cantar com tanto entusiasmo?

Não há como não comparar com nossas reuniões. Parece-me que a liberdade, a fartura e a estabilidade secam em nós a alegria e gratidão pelas pequenas coisas. Pequenas grandes coisas.


Voltei outras vezes. Sempre recebido com muita honra e carinho. Não fazem ideia de quanto me abençoam e me encorajam! As celebrações duram mais de 4 horas e mesmo sendo numa língua que não domino, sempre me edificam.... Numa vez, depois de 2 horas de cânticos, em pé, o recepcionista se aproxima e me diz, educadamente: “Pode sentar-se, pastor, o culto vai longe, não se constranja”.


Dos muitos momentos que já compartilhamos, os que mais me marcaram foram as conversas na nossa garagem, depois que carregávamos seu carro com os mantimentos. A amizade gerou liberdade pra falar sobre as discriminações racistas que enfrentava. – “Todos os dias, pastor, em diferentes situações”! Ainda tenho clara em minha memória sua santa indignação derramada em lágrimas. – “Não é justo”! Sem saber, ele, mais do que nenhum outro, me alertou e desafiou a denunciar o racismo de nossa sociedade. Inclusive, em nossas igrejas.


Um dia nos disse que sua esposa estava grávida... e ele, desempregado. “São gêmeos, pastor! Nem sei o que fazer ou o que pensar”! Oramos, choramos e garantimos que nada iria faltar aos pequenos. Val, cuidadora que é, através de campanhas mobilizou pessoas que se importam e montamos um lindo enxoval: fraldas, carrinho, berço, roupinhas.... O povo de D’us, quando se dispõe, é uma benção!


Os caminhos de D’us são misteriosos. No início do ano ele foi assumiu a Secretaria Municipal de Juventude e Cidadania de Maringá. Que alegria! Senti-me grato, privilegiado por conhecê-lo e, mesmo de uma forma pequena, ter sido canal de benção pra ele. Sua atual posição pode gerar um impacto positivo enorme nos mais vulneráveis. Mais ainda, sua história é exemplo! Encoraja e anima a muitos outros imigrantes que, neste momento, sofrem com enormes necessidades. É possível vencer, apesar de tudo. Dias atrás me chamou. “Pastor, tem uma família de imigrantes aqui na rua. Casal e 3 crianças... O senhor pode acolher”?


Algumas coisas mudam, outras não. O coração convertido a Cristo, não importa onde esteja, sempre terá seus olhos voltados aos pequeninos e sempre buscará caminhos para servi-los. E assim a igreja, o reino do bem avança. Mesmo em meio à pandemia. Por

isso, não desista nem desanime. Continue ao nosso lado.


O Senhor continua a escrever lindas histórias... através de nós.

Apesar de nós.




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