Encontrei Gustavo numa estação de metrô. Salto alto, cabelo preto, comprido, um brilho perfeito. Se apresentou como Britany.
"Sou do Pará. Eu era um menino quieto, magrinho. Desde criancinha, todo homem que entrava em minha casa me violent*va e, depois, me dava comida. Aprendi desde pequeno que a vida é assim. Com 9 anos roubei algumas roupas e maquiagens de minha prima. Me vesti, maquiei e fui pra uma ponte onde passavam muitas carretas. Lá não me faltavam clientes. Eu já ganhava grana, não apenas comida.
Todos os dias, depois de me lavar no rio, voltava para casa e entregava o dinheiro para minha mãe, que nunca me perguntou como eu o conseguia; sempre recebia. Dois anos depois eu estava naquela ponte, quando um carro parou e um senhor propôs me levar pra São Paulo. “Lá você vai fazer muito dinheiro”. Minha mãe juntou algumas roupas, colocou numa pequena sacola e eu fui.
Parecia que nunca chegávamos. Em cada posto de combustível eu precisava atender clientes e não recebia uma moeda sequer. Chegando em São Paulo me levaram a um cirurgião plástico, colocaram silicone em meus peitos e glúteos, me alimentaram bem e, depois, me levaram para uma boate.
Lá eu não tinha descanso, nem grana, nem paz.
Conheci vários meninos que vieram da minha cidade, todos menores de 18 anos. Fiquei nas mãos daquele homem por anos, até que um dia tomei coragem e saí de lá sem olhar para trás.
Fui buscar um trabalho. Eu queria limpar casas ou cozinhar. Uma senhora me aceitou para trabalhar em seu salão de beleza. Foi o melhor tempo da minha vida. Um dia, porém, um ex-cliente entrou no salão e falou pra todos que eu era um tr*vesti e, nesse mesmo dia, perdi meu emprego.
Voltei às ruas novamente. Não ganho muito e já estou velha. Não quero sair daqui, mas quero que toda essa sujeira saia de dentro mim. A princípio, meu nome de registro é Gustavo."
Britany segue nas ruas. Precisa enviar dinheiro para sua mãe. Esta triste história, com apenas alguns flashes de suas dores e traumas, nos confronta com a realidade do tráfico humano bem perto de nós. Haverá esperança pra Gustavo? Como nós, discípulos de Cristo, podemos intervir neste ciclo de morte e desesperança?
Fonte: Dignitate.
Comments