Um de nossos acolhidos me enviou a seguinte mensagem ontem (9 fev 21): “Sua contratação será amanhã. Deverá estar aqui na empresa às 05 horas da manhã e trazer dois cadeados. Aguardamos você!” Nos apresentaram seu caso na semana mais fria do inverno passado. Recém chegado ao Brasil, em plena pandemia, sem falar a língua, enganado e roubado por um “coiote”, deixado na rua sem documentos, sem suas malas, enfim, totalmente vulnerável. Ainda sem saber de muitos detalhes, enviei rapidamente um cobertor e agasalhos.
Na mesma noite recebi uma foto como forma de agradecimento. Nela, ele estava estendendo o cobertor no chão, se preparando pra dormir. Reparei que não havia colchão. Reparei também que, apesar disso, ele estava sorrindo. Fui confrontado com o que vi. Extrema carência e gratidão não costumam andar juntas. Quantas vezes, mesmo com muito mais do que precisamos, não somos gratos e, pior, reclamamos e retemos!
Pedi que o trouxessem ao nosso Espaço. Queria conhecê-lo pessoalmente e saber mais de sua história e de que forma eu poderia ajudar. Chegou com o agasalho que eu havia enviado, de bermuda e chinelo de dedo. Era uma tarde muito fria. Com ajuda do tradutor,
ouvi sua história. Reservado, educado, não levantava o olhar pra responder.
Nove meses se passaram. Hoje ele começou no novo emprego e com carteira assinada. Entre aquele primeiro encontro e hoje há uma história de luta, superação, mas também de pastoreio e amizade. Uma vez ele me disse: “vocês são minha família”! É verdade! O convívio diário, a comunhão na mesa, as conversas no carro voltando pra casa depois de um dia pesado de trabalho. As aulas de português, as conversas por vídeo com sua esposa e filhos (ainda no seu país de origem), o senso de justiça quando reouvemos suas malas e documentos depois de havermos confrontado o coiote. A alegria quando lhe dei uma Bíblia em português e sua reação espontânea de ler ali, na minha frente, em voz alta (bem devagar, mas com o orgulho de um bom aluno), a dedicatória que escrevi… o cuidado que tinha com as hortaliças, os canteiros, os livros…
Tudo isso veio à tona agora e um enorme senso de gratidão e pequenez enche meu coração. Que privilégio sermos canais de benção do Senhor! Meditando em Oséias hoje me deparei com estas palavras: “O Senhor usou um profeta para tirar Israel do Egito e por
meio de um profeta cuidou dele” (12.13). Libertação e pastoreio através de um pastor-profeta. Que especial ser confortado por essa realidade hoje… exatamente hoje.
Nunca imaginei, me preparei ou busquei estar fazendo o que faço hoje. O Senhor, porém, me convocou e, com extremo senso de inadequação, aprendendo a cada dia, a um enorme custo pessoal e familiar, sempre suplicando por sabedoria e recursos do Alto, procuro pastorear (libertar e cuidar) os pequeninos que Ele me apresenta. E claro, só somos capazes de fazer algo porque temos pessoas que oram e investem em nós.
É preciso pastorear muitos outros. O tempo e as circunstâncias assim exigem. As necessidades, múltiplas e complexas, são enormes oportunidades de demonstrar o amor do Eterno de forma concreta aos mais vulneráveis entre os vulneráveis. Mas andamos de joelhos e nossas mãos são frágeis. O desafio financeiro é enorme… Não podemos avançar sozinhos. Não conseguimos. Cremos que a obra de Deus, feita à maneira de Deus, terá os recursos de Deus. Ore conosco. Que tenhamos, a cada dia, sua benção, sua sabedoria e sua
força. Se puder, invista, generosamente.
Os pequeninos Dele agradecem.
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